Viver entre alertas e bunkers: um relato direto de Israel sobre a rotina em meio aos conflitos
Conversamos com Ariel Horovitz, diretor do Moriah International Center, um israelense casado com uma brasileira e que convive diariamente com esse cenário.
Enquanto o mundo acompanha pelos noticiários os conflitos no Oriente Médio, a vida de milhões de pessoas é moldada por uma rotina impensável para a maioria. Como é conviver com alarmes constantes e ter apenas minutos para buscar abrigo?
Para compreender um recorte dessa realidade, a Folha de Itupeva conversou com Ariel Horovitz, diretor do Moriah International Center, um israelense casado com uma brasileira, que vive no norte de Israel e convive diariamente com esse cenário.
Na entrevista, Horovitz relata, direto de sua cidade, Achula, como é viver em meio aos alertas de mísseis, a estrutura dos bunkers e a tentativa de manter uma rotina diante da tensão constante.
A conversa oferece uma perspectiva sobre adaptação, segurança e a vida cotidiana em um contexto de conflito. Confira a entrevista completa com Ariel Horovitz.
Folha de Itupeva: Como foi a primeira vez que o senhor precisou correr para um bunker? Lembra da sensação?
Ariel Horovitz: Na verdade, não precisamos correr. Nós caminhamos porque temos o refúgio dentro do nosso próprio apartamento. É um quarto normal, o quarto da minha filha, mas é um cômodo com uma estrutura muito reforçada e porta de aço. Quando toca o alarme, o que tem sido quase todos os dias ultimamente, vamos para o quarto dela. A orientação é justamente não correr, pois o risco de acidentes é grande – no desespero, as pessoas podem tropeçar, cair e se machucar. Isso é ainda mais importante em lugares públicos como bancos, shoppings, estações de metrô ou rodoviárias, que as pessoas dependem de refúgios comunitários. Todas as repartições e bairros têm bunkers espalhados, servindo de abrigo para quem está em trânsito. As estruturas dos bunkers são extremamente seguras; mesmo que sejam atingidas, não sofrem abalos significativos e se mantêm de pé.
O sistema de orientação à cidadania é bem sofisticado. Praticamente não tem vítimas mortais, tivemos algumas agora com o conflito com o Irã.
Folha de Itupeva: Quanto tempo antes de um míssil atingir a cidade vocês são comunicados para irem para o bunker?
Ariel Horovitz: O alarme toca duas vezes. O primeiro, toca 10 minutos aproximadamente antes do míssil chegar à nossa região, serve para nos prepararmos. O segundo alarme, toca um minuto antes do míssil chegar e nos indica que devemos entrar no refúgio.
Folha de Itupeva: Normalmente, quanto tempo vocês ficam no refúgio?
Ariel Horovitz: Ficamos mais ou menos de 15 a 30 minutos, dependendo do tipo de ataque. Depois, saímos e a vida continua normal.
Folha de Itupeva: Qual é a sensação de segurança quando estão no bunker?
Ariel Horovitz: No nosso caso, ficamos muito tranquilos porque estamos dentro do nosso "quarto refúgio" em casa. Se acontecer de um míssil cair na casa, como já aconteceu, a estrutura do refúgio não é abalada.
Folha de Itupeva: O que vocês levam quando precisam ir para o bunker? Existe uma "mochila de emergência"?
Ariel Horovitz: Não há necessidade de uma mochila de emergência, porque o refúgio é dentro de casa e o período que permanecemos lá não é longo.
Folha de Itupeva: Vocês conseguem manter algum tipo de rotina entre os alertas? Como é o dia a dia fora do refúgio?
Ariel Horovitz: Na época de conflito intenso, claro que a rotina muda um pouco; evitamos sair, e as escolas podem não funcionar. O número de pessoas que vão ao trabalho presencial também é bem reduzido, é só quem precisa mesmo, e muitos já trabalham de casa. Ao contrário do que se possa imaginar, não vivemos em pânico ou desespero generalizado. Em algumas situações, pode haver pânico em regiões específicas, como no ataque de hoje pela manhã (24/06), mas isso não atinge toda a população. Somos bem instruídos a nos proteger.
Folha de Itupeva: As crianças estão conseguindo manter alguma rotina de estudo ou lazer? Você consegue trabalhar ou estudar remotamente, mesmo com a tensão constante?
Ariel Horovitz: Mexe um pouco na rotina, mas não é tão grave. No momento, meu filho está na casa de um amigo, feliz da vida, planejando jogos. Minha filha, ontem, foi dormir na casa de uma amiga. Não há um estado de histeria, pânico ou choro. A população é disciplinada a ficar tranquila. A rotina continua, e eu trabalho dentro de casa.
Folha de Itupeva: Há acesso à internet ou sinal de celular dentro do bunker?
Ariel Horovitz: O uso de celular e internet é tranquilo e normal dentro do refúgio.
Folha de Itupeva: Já presenciou ou viveu alguma situação marcante dentro do bunker?
Ariel Horovitz: Não. Às vezes a gente ouve a intercepção do sistema antiaéreo Israelense, você ouve, mas além disso nada que se passe perto de ser um perigo.
Folha de Itupeva: O sistema de compra de alimentos e água está normal? E o seu estoque é suficiente para quanto tempo?
Ariel Horovitz: Está tudo normal, não está faltando itens no supermercado. Temos um estoque de água, razoavelmente bom em casa, mas nada de histeria.
Folha de Itupeva: Como a comunidade em sua cidade se apoia durante os ataques e os períodos nos bunkers? Há um forte senso de solidariedade?
Ariel Horovitz: Como cada um tem o seu próprio refúgio, praticamente não há necessidade de apoio solidário no sentido de ir para um abrigo comunitário. Meu refúgio, por exemplo, está a apenas dois metros da cozinha.
Folha de Itupeva: Como vocês se mantêm informados sobre os acontecimentos, já que a situação é dinâmica?
Ariel Horovitz: Temos notícias a cada segundo. Não é porque queremos, mas é a realidade da situação no momento. O meio de comunicação é o normal: celular, TV e rádio. Por exemplo, fui levar meu filho à casa de um amigo e meu vizinho comentou: 'Está começando um ataque em tal área'. E eu pensei: 'Como assim?'. O tempo todo temos notícias. Não vivemos aflitos ou em pânico. Não estamos destruídos, para nós, aqui em Israel, o Irã foi atingido de forma humilhante.
Folha de Itupeva: Qual mensagem o senhor gostaria de deixar para os leitores da Folha de Itupeva?
Ariel Horovitz: Temos duas escolhas como ser humano: ou você opta pelo que o Irã representa ou pelo que Israel representa. O Irã representa o Islã radical, é uma ideologia perigosa presente no mundo inteiro. Israel, por sua vez, representa a democracia ocidental, com todas as falhas que uma democracia tem, mas ainda assim é uma democracia de livre prática ao culto e liberdade de pensamento. Então, a escolha é entre um regime ditatorial ou uma democracia ocidental. Essa é a mensagem.
As opiniões expressas nos artigos assinados e entrevistas não refletem, necessariamente, a opinião da Folha de Itupeva.