Queimadas crescem em Itupeva e acende alerta para os perigos da estiagem
Com quatro grandes focos de incêndio nos primeiros quinze dias de julho, município intensifica ações de prevenção e cria força-tarefa para combater as queimadas.

Em apenas quinze dias de julho, Itupeva registrou quatro grandes focos de queimadas. A sequência de ocorrências acendeu um alerta entre autoridades locais e trouxe à tona os impactos ambientais, sociais e à saúde pública provocados pelo fogo, especialmente durante a estiagem.
Com mais de 70 mil habitantes, Itupeva tem seu território predominantemente coberto pela Mata Atlântica, uma característica que aumenta a gravidade dos danos à fauna, à flora e à qualidade do ar.
Segundo Oseias Oliveira, diretor de Defesa Civil de Itupeva, a maioria dos incêndios tem origem humana. Em muitos casos, o fogo é intencional, iniciado com o objetivo de limpar áreas ou eliminar resíduos.
“Se é criminoso ou não, não temos competência para averiguar. O que fazemos é relatar a autoridades ligadas ao meio ambiente e entrar em contato com os proprietários dessas áreas rurais. É importante que os órgãos acompanhem de perto esses locais para inibir qualquer que seja os incêndios criminosos”, explica o diretor.
Falta de preparo climático
Dados do Anuário Estadual de Mudanças Climáticas, publicado em janeiro pelo Centro Brasil no Clima (CBC) e pelo Instituto Clima e Sociedade (ICS), mostram que 15 estados brasileiros ainda não têm planos de adaptação às mudanças climáticas. São Paulo está com um plano em elaboração.
Segundo o documento, é essencial que esses planos incluam políticas públicas, estudos de vulnerabilidade e integração com ações da Defesa Civil, algo que ainda não acontece de forma plena.
Apesar disso, o estado de São Paulo atua no combate aos incêndios por meio da Operação SP Sem Fogo, uma parceria entre as Secretarias de Meio Ambiente, Infraestrutura, Segurança Pública e a própria Defesa Civil.
A nível nacional, a Lei nº 14.904/2024 estabelece diretrizes para esses planos, com foco na identificação e gestão de riscos climáticos, além da integração de estratégias de mitigação e adaptação.
Conscientizar para prevenir
Em Itupeva, a Defesa Civil vem reforçando a conscientização da população como estratégia para reduzir os riscos.
“Tudo o que envolve a segurança da sociedade civil, temos obrigação de estarmos envolvidos e resguardando os cidadãos”, destaca Oliveira.
No início de julho, a Agência SP divulgou que o estado registrou o menor número de focos de incêndio para o mês de junho desde 1998. Foram 55 ocorrências, abaixo das 63 registradas em 2012. Em comparação com junho de 2024, a queda foi de 89%, quando foram registrados 532 incêndios.
No entanto, o avanço da estiagem em julho contribuiu para o aumento dos focos. Oliveira explica que o mês anterior foi atípico, com chuvas concentradas em poucas semanas, o que elevou a umidade do ar e reduziu os incêndios. Já em julho, a umidade caiu para índices entre 28% e 35%.
“Consideramos esse número tolerável nessas condições, porém, à medida que vai se agravando, o ar [umidade] vai baixando e estamos mais suscetíveis a incêndios”, explica.

Força-tarefa e estrutura em expansão
A prefeitura tem mobilizado uma força-tarefa que envolve servidores da Defesa Civil, Secretaria de Infraestrutura, Meio Ambiente, Turismo e o Corpo de Bombeiros. O Departamento de Trânsito também atua em algumas ações, orientando motoristas e pedestres.
“A ideia da Defesa Civil de Itupeva é, principalmente, conscientizar a população e dar uma resposta aos órgãos centrais e envolver todos os departamentos, secretarias e afins”, afirma Oliveira.
O município conta atualmente com uma brigada municipal formada por 15 brigadistas, cuja regulamentação está em andamento. Também foi instalada uma bomba d'água adaptada em uma picape e há sete abafadores em uso, com meta de chegar a 15 unidades.
“O que temos ainda é pouco, claro. Porém, estamos nos estruturando a cada necessidade”, comenta.
Itupeva também integra o programa estadual São Paulo Sem Fogo e está mapeando áreas de risco com apoio da Guarda Municipal Rural. Regiões como Monte Serrat e Vale das Pedras estão entre as mais monitoradas.
A verificação das ocorrências começa com denúncias feitas por secretarias, equipes da brigada ou moradores. Casos de menor proporção são resolvidos por brigadistas, mas incêndios maiores exigem a atuação conjunta com Meio Ambiente, Infraestrutura e Corpo de Bombeiros.
“Há relatos em que a população entra em contato pelo 193 e os bombeiros fazem a ocorrência inicial. Eles avaliam e, se conseguirem controlar, controlam. Porém, se precisarem de apoio, entram em contato conosco solicitando ajuda e prestamos auxílio em conjunto com as secretarias municipais”, descreve Oliveira.

Ações educativas e saúde pública
Com pouco mais de cinco meses da nova gestão da Defesa Civil de Itupeva, o foco tem sido ampliar ações de conscientização, de acordo com o diretor Oseias Oliveira. Recentemente, a equipe promoveu uma ação educativa na escola CEMEB da Fazenda Calixto, na zona rural do município.
Alunos dos 4º e 5º anos participaram de conversas sobre as causas e consequências das queimadas, com distribuição de materiais educativos e debates sobre prevenção.
Na área da saúde, embora Itupeva não tenha dados específicos sobre atendimentos relacionados à fumaça, a Defesa Civil e a Secretaria de Saúde estão alinhadas para responder a possíveis demandas.
Segundo o Ministério da Saúde, a inalação da fumaça pode causar problemas respiratórios, irritação nos olhos e agravar sintomas em pessoas com doenças pulmonares. Em casos extremos, as queimadas podem provocar deslocamentos populacionais e são hoje consideradas um problema de saúde pública.
Legislação e fiscalização
A prática de queimadas é considerada crime ambiental segundo a Lei Federal 9.605/1998. Além disso, a legislação municipal (Lei 2.100/2017) caracteriza como infração a queima de lixo ou mato seco em áreas urbanas e chácaras.
“Investigamos para saber qual é a finalidade, como foi feito e o motivo daquele fogo ter sido aplicado ali. Infelizmente, a Defesa Civil não consegue comprovar se foi crime, porém, junto a outros órgãos estamos alertando para que essas pessoas não se sintam no direito de atear fogo, mesmo que a área pertença a elas”, explica Oliveira.
Canais de comunicação
Em caso de focos de incêndio em áreas verdes, terrenos baldios ou zonas urbanas, a população deve acionar imediatamente o Corpo de Bombeiros pelo telefone 193.
A população também pode entrar em contato com a Defesa Civil de Itupeva pelo WhatsApp, no número (11) 4591-1213, exclusivo para facilitar o suporte e agilizar as respostas em situações de emergência.