O poder do esporte para transformar o envelhecer em Itupeva
Atividades físicas e sociais têm mudado a rotina de idosos na cidade, fortalecendo vínculos, saúde mental e autonomia em uma nova fase cheia de possibilidades.
Com o aumento da expectativa de vida no Brasil e no mundo, cresce também a necessidade de criar ambientes e oportunidades para que os idosos possam viver com qualidade, dignidade e, acima de tudo, saúde. Em meio a esse cenário, Itupeva vem se destacando com uma iniciativa que já colhe frutos importantes: o CCI (Centro de Convivência do Idoso).
O espaço vai além da ideia tradicional de um local de lazer e sua proposta é estimular o chamado “envelhecimento ativo”, conceito promovido pela OMS (Organização Mundial da Saúde) que defende uma velhice vivida com autonomia, participação, segurança e contínuo aprendizado. Isso significa cuidar do corpo, da mente e do bem-estar emocional, tudo ao mesmo tempo.
No local, os idosos têm à disposição uma série de atividades, como aulas de dança de salão, yoga, condicionamento físico, acupuntura, xadrez, oficinas de Informática, artesanato, excursões e até mesmo aulas de idiomas. Aliás, cada atividade é planejada para estimular diferentes aspectos da saúde física, mental e emocional dos participantes.
De acordo com Sandra Medeiros, coordenadora do espaço, as atividades esportivas são adaptadas às condições de cada participante. “A pessoa não tem condições de fazer de pé? É feito sentadinho. É tudo dentro do limite de cada pessoa. Não é exigido nada: roupa, nada. É para você ir lá, ser feliz, se movimentar, interagir, socializar. Isso que é importante,” afirma.
Saúde que se ganha em movimento
A prática regular de atividades físicas é apontada por especialistas como uma das formas mais eficazes de promover o envelhecimento saudável. Segundo dados da OMS, 150 minutos de atividade física moderada por semana já são suficientes para reduzir significativamente os riscos de doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, hipertensão, obesidade e até demência.
De acordo com especialistas, não há idade certa para começar a praticar exercícios. O importante é respeitar os limites do corpo e buscar orientação adequada. No caso dos idosos, atividades como alongamentos, caminhadas, dança e musculação leve são altamente recomendadas, principalmente quando acompanhadas por profissionais qualificados.
E os benefícios vão muito além do físico. O movimento ajuda a combater a depressão, melhora o humor, estimula o raciocínio e até a memória. Para a população idosa, que muitas vezes sofre com o isolamento social e o sedentarismo, essas atividades se tornam um verdadeiro divisor de águas.
Para a Dra. Monaline Ramos, clínica generalista com atuação na área de saúde mental, a atividade física é inegociável para a qualidade de vida do idoso. Ela ressalta que, para muitos, a terceira idade traz o desafio da perda da autonomia, da ociosidade, do "ninho vazio" e da diminuição da cognição, podendo levar à depressão.
“Trabalhamos na atividade física do idoso o equilíbrio, a flexibilidade e a força, para evitar cada vez mais quedas”, explica a Dra. Monaline, destacando que quedas podem levar a internações prolongadas e aumento do risco de óbito. Ela acrescenta que o ócio e o sedentarismo podem acumular pensamentos negativos e depressão enquanto a atividade em grupo estimula a neuroplasticidade cerebral, a socialização e a prevenção de condições como depressão, demência, Alzheimer e ansiedade, além de doenças cardiovasculares e diabetes.
“O idoso que trabalha força, elasticidade e equilíbrio tem autonomia, se socializa e está ativo, com qualidade de vida”, conclui a médica, enfatizando a importância desses três pilares para um envelhecimento saudável e pleno.
E há também o impacto econômico. Quanto mais saudável é um idoso, menor é a demanda por internações, medicamentos e atendimentos de emergência. O que se investe em prevenção, retorna em economia para o sistema de saúde e em qualidade de vida.
No Centro de Convivência do Idoso de Itupeva, essas transformações são visíveis no dia a dia. Participantes que chegaram inseguros, com dores e desânimo, agora exibem sorrisos largos, disposição para novos desafios e até mesmo planos de futuro.
Prova do sucesso da iniciativa é o desempenho do grupo nos JOMI (Jogos da Melhor Idade) 2025, realizados entre os dias 19 e 25 de maio, em Cerquilho, São Paulo. Os idosos de Itupeva brilharam em diversas modalidades e trouxeram para casa não apenas medalhas, mas também orgulho, autoestima e muitas histórias para contar.
Mais do que uma competição, o evento serviu como celebração da vida ativa e do potencial que existe mesmo após os 60, 70 ou 80 anos.
Jogos da Melhor Idade: mais do que medalhas
A participação de Itupeva nos JOMI 2025, foi um marco para os idosos da cidade. Com uma delegação de mais de 40 atletas acima dos 60 anos, o município disputou em modalidades como atletismo, natação, bocha, damas, dança de salão, tênis de mesa e voleibol adaptado.
A preparação começou meses antes, com treinos coordenados por professores de educação física voltados à terceira idade, com apoio da Secretaria de Esportes do município, que forneceu infraestrutura e suporte para a participação dos atletas.
O foco era o desempenho e a participação em grupo. Foram conquistadas 13 medalhas, entre ouros, pratas e bronzes — e registradas diversas experiências durante o evento. No resultado final, Itupeva garantiu a 5ª colocação na classificação geral — confira aqui a lista completa de medalhistas.

O evento também serviu para estreitar laços entre os participantes de diferentes cidades, estimular a autoestima e dar visibilidade ao potencial das pessoas idosas. Muitos dos que participaram nunca tinham competido antes — e agora querem mais.
“Estamos vivendo ainda aquele momento de entusiasmo. E agora, mais do que nunca, a gente fez um plano para ir para São João da Boa Vista em setembro, onde será a final de todas as cidades que se classificaram. Começamos um plano e estamos jogando duas ou três vezes por semana, mantendo o ritmo de competição. A nossa gana aqui, a nossa força, acho que nos leva a conseguir mais uma medalha — se não for de ouro, que seja de prata ou de bronze.” – Luiz Roberto, 72 anos, Ouro no Tênis Masculino Duplas B.

Por trás de cada medalha, há uma trajetória. Muitos dos idosos que hoje brilham nos treinos e nas competições já enfrentaram doenças, lutos, períodos de solidão. Assim, encontraram no esporte uma forma de ressignificar essa fase da vida.
“Graças a Deus eu gosto. Peguei bem o jeito, adoro jogar dominó. Para mim, esse esporte foi a melhor coisa da minha vida, refez a minha alma. Eu não pensava que, com a minha idade, ganharia uma medalha de prata. E vou lutar pela medalha de ouro.” – Nair Simões, 79 anos, Prata no Dominó Feminino.
Cada modalidade praticada carrega mais do que regras e movimentos: traz pertencimento, desafio e um novo senso de identidade. É nessa experiência compartilhada que muitos reencontram não só a vitalidade, mas também um espaço de reconhecimento e celebração.

“O tênis sempre me deu muita alegria e mantém o meu físico sempre firme, com bastante resistência — e isso para nossa idade é fundamental, porque temos que estar trabalhando o nosso físico e a nossa mente para não envelhecer. Às vezes esqueço que tenho 71 anos de idade e acho que tenho vinte.” – Takayuki Matsumoto, 71 anos, Ouro no Tênis Masculino Duplas B.
Esses relatos mostram como o esporte e a atividade física podem ser ferramentas poderosas de reconstrução emocional. Em vez de um fim, a velhice passa a ser vista como uma nova etapa, com espaço para descobertas, alegria e conexões verdadeiras.

E se ainda restava dúvida de que nunca é tarde para começar, um dos momentos mais marcantes dos jogos foi a participação de Altamiro Cerqueira, um atleta de 90 anos. Com sua vitalidade surpreendente, ele trouxe para casa medalha de bronze, no arremesso, provando que não há limites para a paixão pelo esporte e deixando um legado inspirador para todas as gerações.
Os pilares do envelhecimento ativo
O apoio da família e da comunidade é um fator-chave no sucesso do envelhecimento ativo. Muitos idosos que frequentam o CCI relatam que foram incentivados por filhos, netos ou vizinhos. Essa rede de apoio torna a jornada mais leve e motivadora.
“Faço atividades físicas, ginástica e vôlei. O CCI mudou muito a minha vida, porque eu conheço senhoras da minha idade que andam com cabinho de vassoura — e eu, não. Meus meninos falam: ‘Mãe, a gente, que é mais jovem… a senhora dá de dez a zero na gente.’” – Gessi de Souza, 73 anos, Ouro no Arremesso de Peso.
Além do núcleo familiar, ações conjuntas com escolas, universidades e centros de saúde reforçam essa integração. Eventos intergeracionais, como apresentações culturais e oficinas compartilhadas, ajudam a quebrar estigmas e valorizam o conhecimento dos mais velhos.
Quando o idoso sente que faz parte da comunidade, sua saúde emocional melhora. E isso se reflete no físico, na disposição e até na longevidade.
Envelhecer não precisa ser sinônimo de limitação. Pode, sim, ser tempo de novas conquistas, de reencontros consigo mesmo, de metas renovadas. Em Itupeva, essa realidade já é concreta: idosos ativos, engajados, com autoestima elevada e uma comunidade inteira torcendo por eles.
Os Jogos da Melhor Idade e o trabalho do CCI revelam o poder transformador do cuidado integral. Assim, nosso município vira um exemplo para que outras cidades enxerguem na terceira idade não um peso, mas um potencial enorme de vida e contribuição.
E que cada idoso, em qualquer canto do país, tenha a chance de viver plenamente.