Irineu Fernandes, o mestre do grafite que transforma emoção em arte
As obras do artista são mais do que desenhos, são narrativas visuais que capturam a alma humana e nos convidam a refletir.
Nossa jornada em busca dos talentos que fazem de Itupeva uma cidade dinâmica continua. Nesta série, desvendamos as histórias inspiradoras de pessoas que, com sua paixão e persistência, transformam suas vidas e as de outros em arte, inspiração e legado.
Nesta reportagem, conversamos com um artista que traduz emoção em cada traço: Irineu Fernandes. Suas obras são mais do que desenhos, são narrativas visuais que capturam a alma humana e nos convidam a refletir.

A história de Irineu com a arte começou de forma inocente, ainda na década de 70. Fascinado pelos desenhos mecânicos que seu pai, o Sr. Pedro, trazia da metalúrgica, ele se impressionava com a forma como a profundidade e a perspectiva eram representadas.
A inspiração também vinha de seus tios: o tio Arlindo, que fazia maquetes com caixas de papelão e criava entalhes em madeira com um velho canivete, e o tio Júlio, um marceneiro à moda antiga com suas ferramentas “mágicas”. Por ser muito pequeno, Irineu não tinha permissão para manusear ferramentas ou objetos cortantes. Então, a imaginação virou sua principal aliada, e o improviso com lápis e papel se transformou em uma paixão.
Incentivado pela família e por professores, Irineu aprofundou seus estudos. O professor Abner do ginásio foi fundamental ao apresentá-lo ao curso de “Iniciação em Desenho e Pintura” na Casa da Cultura de Jundiaí. Foi lá que ele conheceu o Mestre Issis Martins Roda, um artista que não apenas aprimorou seu estilo no grafite, mas também se tornou uma inspiração de vida. A dedicação e o aprimoramento contínuo são evidentes em sua trajetória acadêmica, com uma lista impressionante de formações, incluindo Pós-Graduação em Design de Interiores, Arteterapia e Psicanálise, mostrando a busca incessante por conhecimento.
O resgate pela arte e a emoção que move o traço em cada obra
A vida de Irineu teve um ponto de virada decisivo com a chegada de Isabel, que em pouco tempo se tornou sua esposa. Ela não só resgatou o artista que havia se afastado da arte, mas também se tornou sua musa. O amor e a alegria do casamento e do nascimento de suas filhas, Isabela e Isadora, injetaram nova vida em sua arte, provando que o verdadeiro sentimento é o combustível mais poderoso para a criação.




Para Irineu, cada obra é um livro de uma única página, mas com uma bela história. Ele busca temas que “startem as emoções”, pesquisando a fundo cada assunto, escolhendo o material ideal e, por fim, a moldura perfeita para selar a criação.
Com uma trajetória de sucesso, Irineu participou de 17 exposições, sendo 11 salões de artes – como o Salão de Artes de Itupeva – nos quais conquistou um impressionante total de 8 primeiros lugares e 3 terceiros lugares. Essa marca comprova o reconhecimento de sua evolução e o peso de seu trabalho.
Um exemplo marcante dessa profundidade é a obra “Shoah”, vencedora do Salão de Artes de Itupeva em 2025, na categoria Desenho/Gravura. Segundo o artista, a obra em grafite, inspirada nas crianças de Gaza, faz uma alusão ao Holocausto. Nela, “o semblante translúcido das crianças no caos da fome, do frio e da ausência dos familiares, expressa uma gota de esperança que se funde à realidade de um futuro sombrio”, afirma Irineu.

“Shoah está vivo na Guerra da Ucrânia, no Conflito de Gaza, na fome e pobreza mundial extrema, na violência, abusos, preconceitos [...] A obra é um grito, uma denúncia, um apelo à compaixão em um mundo que continua a virar as costas para a dor”, reflete o artista.
Irineu confessa sua paixão pelo preto e branco, uma escolha que dá um peso e uma dramaticidade únicos a suas obras. Embora o grafite seja sua técnica de preferência, ele também explora o Pastel Seco, Nanquim, Tintas a Óleo ou Acrílica.
Segundo Irineu, “a escolha do material, inclusive tipo ou tamanho do papel ou tela acontecem naturalmente; é como se o tema da obra escolhesse onde e como quer ser aplicado!”
Suas artes, espalhadas por várias cidades, estados e três países, atestam seu talento e sua capacidade de tocar as pessoas, mas ele ainda acalenta o sonho de realizar uma exposição na Europa.
Como professor, Irineu compartilha seu conhecimento em locais como o Instituto Banaba em Itupeva, buscando inspirar seus alunos da mesma forma que seu mestre o inspirou. Ele descreve a experiência de lecionar com intensidade:
“Lecionar é uma overdose de emoções, pois todos os alunos passam a fazer parte de sua vida e esses sentimentos, da mesma forma que me levaram a voltar aos estudos, também são responsáveis por ajudar a fluir minhas melhores obras.”
Seu desejo de ser lembrado como um mentor, igual ao seu mestre Issis, e de ver seus alunos “brilhando” é o reflexo de sua generosidade e paixão. Sobre o seu ofício, ele deixa uma mensagem poderosa:
“A Arte é a expressão do sentimento, é arriscar uma explosão de emoções, é não temer o resultado e almejar por críticas, pois essas nos fazem crescer, melhorar e procurar a perfeição, já os elogios nos estagnam.”
A história de Irineu Fernandes é uma inspiração para todos nós, mostrando que a arte é um refúgio, uma voz e, acima de tudo, um legado.