Elisete Corrêa faz da arte um caminho para contar histórias da natureza
A artista local conquistou o 1º lugar na categoria Escultura do 16º Salão de Artes Plásticas de Itupeva com a obra “Morte Antecipada”.
A escultura popular sempre cumpriu um papel fundamental no Brasil, utilizando a beleza da forma e a simplicidade dos materiais — do barro ao metal — para construir identidade e, sobretudo, provocar reflexão. De Aleijadinho, mestre do barroco que usava a pedra-sabão para narrar o sagrado com alta dramaticidade, aos artistas contemporâneos que falam sobre o cotidiano, a arte é uma poderosa voz.
É nesta tradição de arte-denúncia que a Folha de Itupeva apresenta a trajetória e a obra de Elisete da Silva Corrêa. A artista local conquistou o 1º lugar na categoria Escultura do 16º Salão de Artes Plásticas de Itupeva com a obra “Morte Antecipada”.
Sua jornada é um fascinante cruzamento entre a arte manual e a vocação profissional, unidas pela paixão em “dar vida à forma”.
Do piche ao bisturi - a origem de uma vocação manual
O interesse de Elisete pela arte vem desde a infância, muito antes de sua atuação como profissional da saúde. Em Ribeirão Preto, a pequena Elisete adorava aulas de artes manuais, bordando, pintando e fazendo bijuterias com sementes. Sua vocação para a escultura, no entanto, veio de uma fonte inusitada.
“Todo material que eu achava queria transformar em alguma coisa,” relembra a artista. O despertar da sua vocação manual veio, literalmente, do asfalto: ela pegava o piche que caía na entrada de uma fábrica de tacos e que ficava amolecido pelo sol. O material era moldado e, depois de endurecer na sombra, virava peça para uma exposição improvisada para a família e amigas.
O incentivo veio cedo. Sua mãe, percebendo a criatividade e a alegria gerada pelos trabalhos, inscreveu-a em cursos de história da arte, desenho, pintura, grafite e nanquim. Já no momento de decidir a profissão, Elisete escolheu a Odontologia, que ela vê como uma extensão da arte manual.
“Escolhi a Odontologia, que é também uma arte que envolve estética, forma, acabamento, paciência e trabalha com as mãos, que para mim é um instrumento divino e precioso,” explica. “Mas nas horas vagas continuava fazendo minhas artes.”
Morte Antecipada - a escultura que grita contra o desmatamento
A poderosa obra “Morte Antecipada” tem como conceito uma reflexão direta sobre o desmatamento e suas consequências, manifestando a inspiração da artista no social e ambiental.
O recado é incisivo: “É sobre um ser vivo forte que tanto ainda tinha para oferecer: sombra, flores, frutos, abrigo, oxigênio – e foi sacrificado precocemente,” detalha Elisete.

A obra, que surgiu de forma súbita ao ver um tronco retorcido que se assemelhava a um corpo caído, foi construída com materiais que reforçam sua mensagem: um galho de árvore para o corpo, papel machê para esculpir o rosto e a cabeça, e gravetos e raízes para a copa.

A vitória no Salão de Artes Plásticas de Itupeva, onde conquistou o 1º lugar na categoria Escultura, foi o verdadeiro divisor de águas. Elisete conta que a notícia foi uma “surpresa enorme” que a impulsionou a “ousar mais e seguir a inspiração” em seus próximos trabalhos.
A Escultura, para Elisete, permite a tridimensionalidade e o olhar de todos os ângulos. Seu maior desafio, no entanto, é o mais filosófico: “dar vida à forma“. Sua arte é inspirada em muitos artistas e, principalmente, na natureza, de onde absorve cores e texturas para desenvolver suas próprias criações.
Reconhecimentos e onde encontrar artes de Elisete
A trajetória de Elisete é marcada por diversas conquistas importantes no cenário artístico de Itupeva e região, demonstrando uma evolução constante na arte da escultura e em outras modalidades.
Sua vitória mais recente é o 1º lugar na categoria Escultura com a obra “Morte Antecipada” no 16º Salão de Artes Plásticas de Itupeva (2025). Sua sequência de premiações inclui o 3º lugar no Salão de 2024, com a escultura “Elegante Cidadão”, e o 2º lugar na categoria Arte Decorativa, com a obra “Sensações“, no Salão de 2022.







A artista também foi reconhecida em outros eventos importantes, como o Festival Fuchs de Cultura (2022), onde apresentou um conjunto de três obras, e pelo programa da Lei Aldir Blanc (2021), com a obra “Inverno“.
O sucesso de Elisete ressalta a importância de eventos culturais locais. “É um grande incentivo para os artistas da cidade, que podem divulgar seus trabalhos, e para a população que prestigia a cultura. É um evento maravilhoso que reúne várias modalidades de artes,” afirma a escultora.
Olhando para o futuro, Elisete pretende dedicar mais tempo às artes e continuar explorando sempre todo material que é possível transformar e reciclar. Os admiradores de seu trabalho podem encontrar suas obras na Casa do Artesão de Itupeva, além de acompanhá-la nas redes sociais: Instagram @elisetedasilvacorrea e Facebook: Papel com arte-papel machê.
A Paixão que transforma e inspira
A jornada de Elisete da Silva Corrêa nos ensina que a arte não tem hora para começar nem limite para a criatividade. Ao transformar materiais inusitados, como o piche da infância e os elementos da natureza, em esculturas que nos forçam a refletir, ela prova que as mãos, sejam elas de dentista ou de artista, são instrumentos de propósito e transformação. Sua paixão e persistência não apenas a levaram ao pódio, mas a consagram como uma artista que usa seu talento para dar voz à natureza e enriquecer o patrimônio cultural de Itupeva.



