Dr. Dorival de Faria Júnior explica como prevenir o câncer de mama e de colo do útero
Especialista detalha a importância dos exames preventivos, como a mamografia e o Papanicolau, além de orientar sobre sinais de alerta e fatores de risco.
O Outubro Rosa é um movimento global que visa conscientizar sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama e, mais recentemente, do câncer de colo de útero.
Para esclarecer o assunto, ouvimos o Dr. Dorival de Faria Júnior, ginecologista e obstetra da Clínica Médica Yoshida, em Itupeva, que atua há anos na área da saúde da mulher.

O especialista detalhou a importância dos exames preventivos, como a mamografia e o Papanicolau, além de orientar sobre sinais de alerta e fatores de risco. O Dr. Dorival enfatiza que o cuidado com a saúde é um ato de amor-próprio e com a família. Confira os principais trechos da entrevista:
Folha de Itupeva: Doutor, para começar, poderia explicar em poucas palavras qual a importância do Outubro Rosa e qual a sua principal mensagem para as mulheres neste mês?
Dr. Dorival: Outubro Rosa é uma campanha de conscientização sobre a importância dos cuidados de prevenção de doenças na mulher, em especial o Câncer de Mama. É um momento especial de reflexão, de informação e de união de toda a sociedade, homens e mulheres, em torno de um assunto que tanta diferença faz na vida das mulheres: sua saúde. A mensagem que gostaria de passar a todas as mulheres é que cuidar da própria saúde é a garantia de poder continuar a distribuir o amor e o carinho para suas famílias. Cuidem-se! Nós, seus maridos, filhos, netos e amigos as amamos e precisamos de vocês!
Folha de Itupeva: A mamografia é o principal exame para detecção precoce. Qual a idade recomendada para iniciar o rastreamento, com que frequência ele deve ser feito, e qual o impacto real da detecção precoce nas chances de cura?
Dr. Dorival: A mamografia, associada ao ultrassom de mama, permite detectar sinais suspeitos de tumores malignos de mama (câncer) muito antes da presença de tumor palpável. Assim, mesmo que não haja nenhum sintoma, os exames associados conduzem ao diagnóstico precoce (mais cedo) do câncer.
Quando diagnosticados o câncer em seus estágios iniciais, o tumor é menor, menos invasivo e menos agressivo, respondendo melhor aos tratamentos cirúrgicos. Além disso, nessa fase inicial, há menor chance de disseminação das células cancerígenas pelo organismo, o que diminui o risco de complicações e da necessidade de tratamentos complexos. Há menos efeitos colaterais e aumentam as chances de cura da doença.
A mamografia deve ser realizada uma vez por ano, a partir dos 40 anos de idade e uma vez a cada dois anos, entre os 59 e os 74 anos.
Recomenda-se ainda que mulheres com histórico familiar devem realizar a primeira mamografia 10 anos antes da idade em que o câncer foi diagnosticado em sua parente.
Lembremos: Câncer de mama é o segundo mais frequente na mulher, ficando atrás apenas do câncer de pele; representa 28% de todos os cânceres da mulher e estimam-se mais de 73 mil casos novos entre 2023 e 2025 no Brasil. Previna-se!
Folha de Itupeva: Além da mamografia, quais são os sinais ou sintomas que as mulheres devem estar atentas no dia a dia, e como o senhor orienta sobre a prática do autoexame das mamas?
Dr. Dorival: O principal sinal clínico que requer a atenção da mulher é a presença de um caroço, visível ou palpável, na mama. Outros sinais e sintomas nas mamas: vermelhidão e pele endurecida; áreas estufadas (abaulamento) ou covinhas (retração); feridas que não cicatrizam ou coceiras que não melhoram; saída espontânea (sem apertar) de líquido do bico da mama, em especial de cor vermelha ou transparente.
O autoexame deve ser realizado pela própria mulher, uma vez por mês. Se você ainda menstrua, realize o exame após a menstruação.
Técnica de autoexame das mamas: retire suas roupas e observe atentamente suas mamas. Procure os sinais descritos acima.
Para a palpação: levante seu braço direito e palpe a mama direita com sua mão esquerda, utilizando as pontas dos dedos indicador e médio, um de cada vez. Movimente seus dedos por toda a mama, de maneira circular; faça movimentos lentos, atentos e perceba nas pontas dos dedos cada pedacinho de sua mama, procurando bolinhas que sejam diferentes do restante dos tecidos da mama. Repita o procedimento do lado esquerdo.
Na presença de um dos sinais e sintomas acima descritos, procure seu ginecologista.
E lembre-se: na maioria dos casos, esses achados não significam que você tem câncer, mas somente a investigação cuidadosa pode garantir o diagnóstico correto.
Folha de Itupeva: Existem fatores de risco que aumentam a probabilidade de desenvolver câncer de mama? O senhor poderia comentar sobre a relação entre estilo de vida (como alimentação, exercícios e álcool) e a redução do risco?
Dr. Dorival: Há alguns fatores de risco que não podem ser modificados pela mulher: idade superior a 40 anos, primeira menstruação antes dos 11 anos de idade, menopausa após os 55 anos, não ter engravidado ou amamentado, ter histórico de câncer de mama na família (em especial mãe ou irmã).
Por outro lado, há fatores que podem ser modificados por mudança de hábitos: sedentarismo, obesidade e sobrepeso, alimentação não saudável, consumo de bebidas alcoólicas e cigarros, desatenção com sua saúde e falta de exames preventivos.
Outro fator de risco a destacar é o uso indiscriminado e prolongado de hormônios para a reposição hormonal após a menopausa. Hormônios devem ser prescritos apenas por médicos, por períodos menores que dois anos e somente para quem de fato tem indicação de uso. Evite a autoprescrição.
Folha de Itupeva: Doutor, qual o principal exame de rastreamento para o câncer de colo do útero? Qual a faixa etária e a periodicidade ideal para a realização do exame preventivo e como esse procedimento simples impacta a prevenção?
Dr. Dorival: O Câncer de Colo de Útero é o terceiro mais frequente nas mulheres, ficando atrás apenas do câncer de pele e de mama.
A citologia oncótica, conhecida como Exame de Papanicolau, é o principal exame de rastreamento de câncer de colo uterino.
O exame impacta fortemente na prevenção da doença, pois permite detectar lesões que poderiam levar ao câncer. Detectadas, essas lesões podem ser tratadas antes mesmo do surgimento do câncer.
O Ministério da Saúde indica o exame entre os 25 e 60 anos, baseado em políticas de saúde; no entanto, em virtude do baixo custo e alta sensibilidade do exame, sugerimos realizar o exame uma vez por ano, a partir do momento em que a mulher inicia sua vida sexual (primeira relação sexual), independente da idade.
O exame permite detectar e tratar lesões que podem levar ao câncer, permitindo seu tratamento antes mesmo do câncer surgir.
Outro exame que vem sendo incorporado na prevenção do câncer de colo uterino é a detecção do vírus HPV.
Folha de Itupeva: O câncer de colo do útero está fortemente ligado ao vírus HPV. A vacinação é a principal forma de prevenção primária. Qual a importância da vacina e para quais grupos ela é recomendada e oferecida gratuitamente?
Dr. Dorival: A vacinação contra HPV trouxe um recurso muito importante para a prevenção do câncer de colo de útero. Ela é composta por fragmentos virais de subtipos específicos de vírus HPV, em especial aqueles que causam o câncer de colo uterino. Uma vez vacinada, a mulher tem menos chance de se contaminar pelos subtipos 6, 11, 16 e 18, mas não impede a contaminação por outros subtipos.
Assim, a melhor prevenção do câncer de colo uterino é o uso de camisinha em todas as relações sexuais.
Recomenda-se a vacina para todas as pessoas com vida sexual ativa, independente da idade.
No Brasil o SUS garante a vacinação gratuita para os seguintes grupos:
Meninos e meninas entre 9 e 14 anos
Pacientes com câncer
Pacientes transplantados
Pacientes com HIV/AIDS
Vítimas de violência sexual
Folha de Itupeva: Quais são os principais mitos ou tabus que ainda envolvem o câncer de colo do útero e que impedem a mulher de buscar o diagnóstico? E, além da rotina de exames, quais sintomas de alerta devem fazer com que a mulher procure atendimento médico imediatamente?
Dr. Dorival: A coleta do exame preventivo (citologia oncótica ou Papanicolau) ainda é envolvida em preconceito, por vergonha de se expor ao profissional de saúde ou medo de que o exame cause dor. Outro mito é que, “se não sinto nada, não tenho doença e não preciso de exame”. As doenças são na maioria das vezes assintomáticas nos estágios iniciais e somente o exame de citologia pode detectá-la.
Devemos lembrar que o exame físico e o Papanicolau são os únicos meios eficazes de diagnosticar precocemente (cedo) as doenças dos órgãos genitais. O exame pode ser incômodo para algumas mulheres, mas é indolor, rápido, simples e realizado apenas uma vez por ano.
Sinais de Alerta para doenças dos genitais: verrugas ou feridas nos genitais, ínguas (inchaço e dor na virilha), corrimento de cor vermelha, sangramento após relações sexuais, corrimento com odor, dor pélvica.
Folha de Itupeva: Como ginecologista, qual o seu papel e o da sua especialidade no diagnóstico e no acompanhamento inicial dessas pacientes? E caso o diagnóstico se confirme, na mama ou útero, quais são os próximos passos e há rede de apoio/tratamento na cidade de Itupeva?
Dr. Dorival: O ginecologista tem a função de ouvir atentamente as queixas das pacientes, esclarecer todas as suas dúvidas e solicitar os exames preventivos para o rastreamento das doenças.
Exames de rastreamento positivos exigem a realização de exames complementares como a punção e ou biópsia de lesões de mama e a colposcopia com biópsia e exames imuno-histoquímicos do colo uterino.
Quando detectada a doença (câncer de colo ou mama ou suas lesões precursoras), cabe ao ginecologista encaminhar as pacientes para os especialistas para seguimento e tratamento. Os encaminhamentos mais frequentes são para o Mastologista, o Oncologista, o Cirurgião Ginecológico e o Cirurgião Oncológico.
A cidade de Itupeva dispõe de recursos para a realização dos exames de Papanicolau, ultrassom de mama, detecção do vírus HPV e colposcopia, tanto na rede pública como privada.
Alguns exames, como as mamografias, são realizados pela rede privada de apoio em Jundiaí e na forma de campanhas, em unidades móveis de diagnóstico contratadas pelo SUS.
As punções e biópsias de mama, bem como os tratamentos especializados (cirúrgicos e oncológicos) são realizadas em serviços de apoio em Jundiaí.



