Douglas Ramos: a trajetória do maior karateca da história de Itupeva
Atleta traz na bagagem conquistas nacionais e internacionais, além de recordes que até hoje não foram batidos, como ser o maior medalhista de Itupeva nos Jogos Regionais e nos Jogos Abertos.
O melhor no que faz. Se nas histórias em quadrinhos a expressão se popularizou com o personagem Wolverine, na vida real, poucas são as pessoas que em algum momento da vida podem fazer essa afirmação.
E este é justamente o caso de Douglas Ramos, karateca itupevense que traz na bagagem conquistas nacionais e internacionais, além de recordes que até hoje não foram batidos, como ser o maior medalhista de Itupeva nos Jogos Regionais e nos Jogos Abertos, competição na qual foi o primeiro atleta da História a ganhar ouro em duas categorias em uma mesma edição (até 60 quilos e na categoria absoluto), em 2019.
“Eu fui o melhor atleta da cidade até hoje, o melhor atleta do Estado por alguns anos”, conta Douglas. “Eu não falo isso por achismo, os meus números correspondem a isso”, completa.
E realmente, por duas décadas, Douglas competiu em alto nível, conquistando diversos pódios, além de figurar entre os melhores do país. “Eu fui atleta da Seleção Brasileira por seis anos consecutivos, campeão brasileiro adulto, campeão sul-americano, bronze no campeonato pan-americano, bronze no Open de Las Vegas, três vezes campeão brasileiro zonal, 13 vezes campeão estadual, sete vezes campeão dos Jogos Abertos, 13 vezes campeão dos Jogos Regionais. Então, assim, eu mantive uma regularidade por quase vinte anos, então os números dizem tudo”, explica o atleta, com todo o mérito.
O mundo perdeu um capoeirista, mas ganhou um grande karateca
Mas o caminho, como toda boa história de sucesso, foi cheio de desafios — dentro e fora do tatame. E por muito pouco Douglas não se tornou capoeirista.
“Comecei a treinar com uns quatro anos, quase cinco, por influência do meu pai, que sempre gostou de lutas e já tinha treinado karatê e capoeira. De início, ele queria que eu treinasse capoeira, mas como não tinha, ele me levou pra treinar karatê”, conta Douglas.
Nessa época, Douglas conheceu o Sensei Paulinho do Karatê, da Associação Subaru, que traz uma tradição de décadas na cidade. Ali começava uma longa história de respeito, determinação e confiança entre aluno e professor que, muitas vezes, foi além das paredes do ginásio e se tornou até familiar.
“No início da minha carreira eu me espelhava muito no Wagner Lucio, filho do meu Sensei, o Sensei Paulinho. Para ser sincero, tanto o filho do Sensei quanto ele mesmo foram essenciais nessa minha carreira, porque o Wagner era quem eu me espelhava e o Sensei foi quem me ensinou karatê e me levou para lutar em todas as competições que podia, sempre foi quem acreditou em mim, mais até que eu mesmo em certos momentos”, destaca o karateca.
O eterno sensei e o filho foram, então, os primeiros ídolos de Douglas, que depois se inspirou ainda em Alexandre Biamonti da França; Hossein Rouhani do Irã; e Dimitrius Triantafyllis da Grécia. “Foram todos atletas que eu me identifiquei muito com o jeito de lutar”, completa.
Ascensão do Guerreiro
Dedicado, Douglas foi se desenvolvendo no karatê, e a primeira classificação veio cerca de cinco anos depois do início.
“Eu comecei a competir na faixa laranja, e como todo atleta tive um começo difícil. Em 2001 foi a minha primeira classificação, de início eu nem entendia muito bem o que era, porque era muito criança, só tinha 10 anos, foi minha primeira viagem para fora do estado”, relembra.
A partir daí, Douglas se empenhou em avançar no mundo esportivo e se tornar atleta da Seleção Brasileira virou quase uma obsessão.
“A Seleção Brasileira foi algo que eu busquei por quatro anos até entrar. Lembro que foi logo após a minha primeira medalha no campeonato brasileiro em 2002 e já comecei a entender o que eu queria, que era ganhar essas competições para poder entrar pra Seleção”.

O Grande Desafio
Em tantos anos de disputas de alto rendimento, Douglas admite que é “difícil citar qual a maior conquista, todas têm um valor especial, porque foi muita luta pra conseguir tudo”.
O desafio mais difícil no tatame, no entanto, ele se lembra pela dificuldade da competição.
“Foi uma etapa da Liga Mundial na Turquia, tinha 147 atletas, basicamente todos os principais países e atletas estavam lá, parecia um campeonato mundial. Eram pelo menos sete lutas para se tornar campeão e eu fui eliminado na quarta, por um atleta italiano multimedalhista mundial. Eram muitas lutas e com muitos atletas de alto nível”, aponta ele que, na época, tinha condições de enfrentar os melhores karatecas do planeta.
No entanto, o maior desafio veio do lado de fora, sem o quimono. Uma lesão na coluna cervical em 2018 tirou o atleta não só das competições, como também dos treinos, por um longo período. A gravidade foi tão grande que houve o risco de perda de movimentos.
“O período mais difícil da minha carreira foi com uma lesão e depois o retorno, porque eu jamais havia ficado tanto tempo sem competir em alto nível e nunca havia ficado tanto tempo sem treinar em alto nível. Eu sempre fui um atleta muito disciplinado, então vinha de mais de dez anos treinando cinco horas por dia, sem faltar aos treinos, mas o retorno foi muito difícil, porque além de tudo isso, eu havia perdido os meus parceiros de treino, então tive que fazer tudo isso sozinho. Eu treinei por mais de um ano sozinho com um saco de pancadas”.
O período, que exigiu muita paciência e resignação, foi recompensado com novas conquistas — como as duas medalhas em categorias diferentes dos Jogos Abertos. O próprio atleta reconhece a importância da superação.
“Agora que encerrei com as competições, percebi que não estava fazendo mais sentido competir, depois que retornando de uma lesão grave que quase me deixou tetraplégico, perdi as três primeiras competições do ano, algo que não acontecia desde 2001, treinando sozinho. Depois de tudo isso eu fui lá e fiz tudo de novo no ano seguinte e cheguei em todas as finais das competições do ano. Foi ali que eu vi que não precisava provar mais nada para eu mesmo. Até porque para as outras pessoas, eu tinha certeza de que eu não precisava provar nada”.
E Agora?
“No momento, a vida fora do karatê tá uma chatice. Parece que tudo perdeu a graça, vejo uma vida sem muita emoção”, brinca Douglas.
De acordo com ele, no entanto, é uma questão de tempo até encontrar outra coisa para fazer em alto nível novamente.
Por enquanto, o maior karateca da história de Itupeva vem trabalhando junto ao irmão na BV Uniformes, ao mesmo tempo em que prepara a criação de uma marca de roupas. “Tenho muita coisa feita já, mas ainda com aquele receio de não ter certeza de que é isso que eu quero fazer”.
Apesar disso, o quimono está longe de ser abandonado. “Tenho treinado bastante, como se fosse competir, mesmo sabendo que não vou fazer isso mais”. Ele faz uma pausa, antes de completar, com um sorriso. “Pelo menos não por agora”.