Do mundo corporativo à Casa da Vovó Lena: a receita caseira que conquistou Itupeva
Acolhedora desde o nome, a marca carrega uma homenagem familiar que representa a própria essência do negócio.
Prepare-se para se inspirar com a quarta reportagem da série especial da Folha de Itupeva sobre empreendedorismo local, que destaca trajetórias de quem transforma sonhos em negócios com coragem e paixão, aqui na cidade.
Desta vez, vamos conhecer a jornada de Carlos Eduardo Osório, o Dudu, proprietário da Casa da Vovó Lena, uma acolhedora casa de salgados artesanais que, em menos de um ano, já se tornou um case de sucesso em Itupeva.
Você sabia que no Brasil os salgados fritos e assados são mais que um alimento? Sim, os salgadinhos são uma paixão nacional, parte intrínseca da nossa cultura e culinária, presentes em cafés da manhã, padarias, carrinhos de rua, festas e até nos encontros descontraídos com amigos.
É uma história que começou em 1930 com o Mandiopan, considerado o primeiro salgadinho frito do Brasil, batizado inicialmente de "pororoca" e rebatizado pela indústria nos anos 50 como Mandiopan.
Deliciosos e versáteis, os salgados se adaptam a qualquer hora do dia e a uma infinidade de recheios – de frango e carne a queijo e doces. A paixão é tanta que a produção de salgados se tornou um negócio que sustenta muitas famílias em todo o país.
A icônica coxinha, por exemplo, tem suas raízes no século 19, popularizada em São Paulo e hoje um verdadeiro símbolo nacional.
É nesse cenário vibrante, e com o toque de um sabor caseiro inconfundível, que a Casa da Vovó Lena desponta. E por trás desse sucesso está um empreendedor cuja história de vida é tão saborosa quanto os quitutes que oferece.

Um nome cheio de afeto e sabor de vó
Acolhedora desde o nome, a Casa da Vovó Lena carrega uma homenagem familiar que é a própria essência do negócio. Carlos Eduardo relata, todo orgulhoso, que o nome foi sugerido pela filha, Maria Eduarda.
“Ela sugeriu o nome da mãe do meu cunhado, a Vovó Lena, já falecida. A conexão foi imediata e surpreendente quando Maria Eduarda escreveu "Lena" de um jeito incrivelmente parecido com a caligrafia da própria vovó, que amava cozinhar e, claro, salgados.”
Essa memória afetiva se traduz no grande diferencial da casa: salgados que são até 30% maiores e com muito mais recheio, produzidos artesanalmente com temperos caseiros. Carlos Eduardo comenta que, "enquanto muitos concorrentes são franquias com tamanhos padronizados e alguns não franqueados sacrificam a qualidade por custo, nós preservamos o sabor com preço justo".
E o carro-chefe? A coxinha da Vovó Lena, favorita entre os clientes, é de fabricação própria, o que reforça a autenticidade e o cuidado com o produto.
Mas não é só o que está no prato que faz a diferença. O atendimento personalizado e o compromisso em fritar os salgados na hora em que o cliente precisa garantem a satisfação do mesmo.
"Qual casa de salgados faz entrega às 07h30 da manhã? Levantei às 5h e entregamos a encomenda quentinha, mantendo toda a qualidade", exemplifica Carlos Eduardo, mostrando sua paixão pelo que faz.
A virada de chave: de executivo farmacêutico a empreendedor
A trajetória de Carlos Eduardo é um capítulo à parte e prova que a vida pode nos surpreender com novos sabores. Por trinta anos, ele atuou como executivo em grandes indústrias farmacêuticas, começando como office-boy aos 13 anos e chegando a gerente executivo na Johnson & Johnson até 2024. Curiosamente, todos os seus testes vocacionais na faculdade apontavam para o empreendedorismo, mas o conforto e a estabilidade da CLT o mantiveram em outro caminho por décadas.
A mudança para Itupeva, há quatro anos, foi o primeiro passo para a grande virada. "Durante a pandemia, nosso hobby era procurar casas no interior. Minha esposa já estava decidida a mudar e fez todo o trabalho de procura, corretor e visitação até encontrarmos nosso novo lar", revela.
Em setembro de 2024, surgiu o "plano B": um pequeno negócio de salgados, inicialmente chamado apenas de "Vovó Lena". O que era para ser uma alternativa, logo se mostrou o caminho. Em menos de um ano, a demanda cresceu e ele decidiu deixar a carreira corporativa para se dedicar integralmente à paixão pelos salgados.
Os primeiros dez meses foram de muita resiliência em uma loja pequena, sem estacionamento e com baixo fluxo. "Eu nunca tirei R$ 1,00 para mim. O que entrava dava para pagar os custos, eu não ficava no vermelho, mas não colocava nada no bolso", revela sobre a fase de "plantio", que exigiu paciência e crença no projeto.
A transição de carreira não foi fácil. “Desacelerar não é tão simples, e ver as coisas caminhando devagar não é nada motivante. Mas, as pessoas querem retorno rápido e eu entendi que não é assim,” admite.
Para empreender, Carlos Eduardo ressalta a necessidade de "saber ou aprender a fazer de tudo no seu empreendimento, desde limpar a loja até gerenciá-la".
Contudo, todo o conhecimento que adquiriu como gestor corporativo foi fundamental e hoje é colocado em prática na própria empresa. A experiência o ensinou a ter mais resiliência e o fez aprender muito em áreas como atendimento e logística de entregas, conhecendo novos bairros e pessoas.
Carlos Eduardo conta com um sócio essencial nessa jornada: Mateus Santana. "Tenho um sócio, ele é mais jovem e soma com a juventude dele, trazendo o conhecimento da tecnologia, o que facilita a criação de campanhas e a divulgação da loja nas redes sociais, e a minha é no gerenciamento", destaca, mostrando a sinergia entre experiência e inovação.

Expansão e estratégia: a conquista de Itupeva
A visão empreendedora de Carlos Eduardo não demorou a buscar novos horizontes. Em junho de 2025, a "Vovó Lena" mudou para um espaço maior, com estacionamento, mais fluxo de pessoas e um novo nome: "Casa da Vovó Lena".
A localização estratégica dentro de um supermercado foi fundamental. "O fluxo aqui é gigante! Em um mês já sentimos um avanço significativo na visibilidade da loja, na quantidade de pessoas que entram e fazem perguntas", celebra Carlos Eduardo.
A expansão trouxe também a diversificação do cardápio, que agora inclui doces, sobremesas, açaí e sorvetes, além de um forte foco em encomendas para pessoas físicas e jurídicas, como um recente pedido de 360 refeições para um evento em uma indústria da cidade.
Sobre as estratégias de marketing e vendas, a "Casa da Vovó Lena" investe pesado no digital, com descontos significativos pelo iFood (de 10 a 30%) e opções de porções para todos os tamanhos de família. "O iFood ajuda a expandir a marca, alcançando tanto o consumidor final quanto as empresas. As promoções nos deixam em evidência e as pessoas enxergam nossa qualidade com preço justo", explica.
E para quem sentiu falta da divertida promoção das bexigas, onde clientes estouravam uma e ganhavam um salgado ou doce, Carlos Eduardo explica: "Ainda estamos em transição e implementação da nova loja, só tem um mês que estamos aqui. Estamos colocando a casa em ordem, por isso ainda não estamos fazendo esta promoção de engajamento, mas vamos sim interagir com o público novamente, logo mais."
Itupeva: o palco de oportunidades e sonhos
Para Carlos Eduardo, Itupeva não é apenas o endereço de sua empresa, mas um verdadeiro celeiro de oportunidades. "Estou há quatro anos na cidade, e Itupeva está crescendo em uma velocidade muito grande, deve dobrar de tamanho em cinco anos", observa ele com base em estatísticas.
A escolha da cidade foi intencional. "Enxergamos muita oportunidade em Itupeva e decidimos por esta cidade,” afirma.
Ele também visualiza um nicho de mercado importante, já que muitos moradores ainda deixam Itupeva para consumir em cidades vizinhas. “O Itupevense não consome em Itupeva, sai para Jundiaí ou Indaiatuba, onde encontra preço baixo com qualidade baixa, ou qualidade maior com preço muito alto. Nós buscamos o equilíbrio, oferecendo qualidade com preço justo para que o povo de Itupeva consuma na própria cidade. Este é o nosso desejo.”
Empreender, no entanto, vem com seus desafios. "Não se pode ter expectativa de retorno rápido, e é preciso ter capital de giro, tanto para a empresa quanto para as despesas pessoais. O índice de empresas que fecham em um ano é grande por falta de planejamento e por misturar os orçamentos", alerta.
O futuro da Casa da Vovó Lena passa por estabilizar a loja, consolidar a marca na cidade com crescimento orgânico, expandir o cardápio e focar ainda mais no atendimento a pessoas jurídicas.
Mas a visão do empresário vai além: em julho de 2025, ele e sua esposa inauguram a franquia "Doutor Hérnia" em Itupeva, uma clínica de fisioterapia especializada em coluna vertebral.
"Queria diversificar a prestação de serviço, pesquisei tendências para os próximos anos e vi a oportunidade no tratamento de coluna para adultos. Essa franquia traz 95% de eficácia no tratamento de hérnia de disco, dor ciática e dores na coluna, sem cirurgia", conta Carlos Eduardo, demonstrando um olhar estratégico e de longo prazo para as necessidades da população.
Uma mensagem de inspiração para empreender com propósito
Carlos Eduardo deixa uma mensagem para os leitores e futuros empreendedores de Itupeva: "Não desista dos seus sonhos. A cidade tem grandes oportunidades, e as pessoas precisam de qualidade em produtos e serviços a preços justos. Trabalhar com o que gosta é muito bom, até para a saúde mental."
Ele reforça que empreender exige paciência, resiliência e profundo entendimento do negócio. "Precisa saber esperar, que o resultado vai vir. A cidade tem potencial e espaço, mesmo com concorrência", finaliza, destacando a importância de consumir localmente e a prioridade em "Deus e família", buscando sempre a relação entre propósito e realização.
A história de Carlos Eduardo e da Casa da Vovó Lena é um testemunho de que, com paixão, planejamento e um toque de sabor caseiro, é possível construir um legado de sucesso em Itupeva.
Na próxima semana, a série continua trazendo mais uma trajetória inspiradora do empreendedorismo em nossa cidade. Não perca!