Diálogo entre gerações fortalece o envelhecimento saudável
Entenda como o convívio entre gerações pode tornar o envelhecimento mais ativo, saudável e positivo para todos.
O envelhecimento da população brasileira é uma realidade cada vez mais evidente. Mudanças nos padrões de natalidade, avanços na medicina e na qualidade de vida têm levado a um crescimento expressivo no número de pessoas idosas no país — o que exige novos olhares, adaptações e, principalmente, mais diálogo entre gerações.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a tendência de envelhecimento da população vem se mantendo. Você sabia que, no Brasil, o número de pessoas com mais de 60 anos é maior que de crianças com até 9 anos?
Aliás, a estimativa é de que, até o ano de 2030, o país se torne um lugar onde a geração mais velha será superior ao grupo de pessoas com até 14 anos. Segundo o Censo 2022, do IBGE, o que antigamente atingia a marca de 22,3 milhões, atualmente temos 31,2 milhões de idosos por aqui.
Com esse cenário, é comum que ocorram choques de gerações — situações em que pessoas de idades diferentes têm visões, hábitos e valores que entram em conflito. Cada geração é formada por indivíduos influenciados pelo contexto histórico em que cresceram, o que molda sua forma de pensar e agir na sociedade.
Por mais que cada linhagem reúna características próprias, tanto em relação à cultura quanto comportamentos, é fundamental respeitar as individualidades existentes. Então, é aí que entra a importância das relações intergeracionais.
Trocas intergeracionais: o que são?
Para começar, saiba que na teoria, a palavra “intergeracionalidade” significa interações de grupos de pessoas com diferentes idades.
Esse termo, que vem sendo estudado com mais afinco nos últimos anos, na prática visa promover o convívio entre cidadãos de faixas etárias distintas, baseado em trocas de experiências de vida, valores e princípios.
De acordo com a psicopedagoga, Cláudia Soares de Oliveira — autora de um artigo no Portal do Envelhecimento — em uma sociedade que envelhece, é de extrema relevância e urgência a discussão desses laços. Aliás, a especialista acredita que “gerar solidariedade entre as gerações é uma das estratégias de cuidado para com os mais velhos”.
Sendo assim, a relação entre o público mais novo e mais vivido tende a alcançar uma troca valiosa de histórias do passado e conhecimento. Inclusive, pesquisas científicas apontam que essa convivência tem o poder de melhorar o estado cognitivo e de humor dos idosos. Além disso, tem a possibilidade de contribuir quando o tema é a longevidade.
Em um artigo publicado no portal do Centro de Direitos à Vida da Pessoa Idosa (CEDIVIDA), conhecemos um estudo feito em Veranópolis, um município do Rio Grande do Sul, que possui muitas famílias com mais de quatro gerações vivendo na mesma casa.
Essa pesquisa foi realizada pelo geriatra Emílio Hideyuki Moriguchi e os resultados mostraram que pessoas mais velhas locais têm o encurtamento mais lento em relação à extremidade dos cromossomos, que estão ligados ao envelhecimento (telômeros). Isso significa que a maior expectativa de vida pode estar associada à qualidade desses relacionamentos interpessoais.
Dito isso, é notório que fortalecer essas conexões acaba por consolidar vínculos sociais valiosos. Ou seja, quando momentos são compartilhados entre jovens e a terceira idade, os benefícios se estendem e a afetividade se torna real, mesmo tendo experiências e entendimentos diferentes do mundo.
Então, debater hábitos, pensamentos, culturas e crenças (com respeito e uma escuta ativa), traz inúmeras vantagens a ambos os lados. Esses encontros têm potencial para serem enriquecedores no quesito aprendizado, tanto no âmbito da vida no geral quanto no conhecimento sobre tecnologia, por exemplo, e outras visões atuais.
As trocas intergeracionais são relações saudáveis entre avós, pais, filhos e netos. É uma maneira eficaz de reverter preconceitos frente ao envelhecimento, bem como agregar na melhoria da qualidade de vida de todas as gerações existentes, não importa se a pessoa é um idoso, adulto, adolescente ou criança.
Lembre-se de que esse laço afetivo tem um efeito para lá de positivo na saúde e no bem-estar de cada pessoa, independente de quantos anos ela tenha.
No mais, além dos ganhos que já citamos, essa afinidade quando existe, colabora com o aumento da autoestima. As trocas integeracionais ajudam a geração mais velha a ter mais autonomia e consegue estimular não só as funções cognitivas, como as psicossociais também.
Além disso, é um jeito benéfico de reforçar o senso de pertencimento e importância dentro de uma comunidade. E os mais novos, o que ganham? Capacidade empática, conhece o outro lado da moeda ao tão temido verbo “envelhecer” e amplia a sua resiliência.
Inclusive, uma dica de ouro é incentivar e promover uma série de ações em prol desse movimento. Por mais que, a princípio, essa ligação aconteça mais dentro das próprias famílias, a rotina corriqueira pode acabar atrapalhando esse processo.
Fortalecendo as relações entre gerações no dia a dia
Quando alguém se aproxima da terceira idade, o desejo de viver com qualidade e dignidade tende a ser uma das prioridades.
Se você tem alguém próximo nessa fase da vida, é natural pensar em formas de garantir conforto, autonomia e bem-estar. Muito além de soluções como casas de repouso ou espaços fechados, o que realmente faz diferença é promover ambientes onde pessoas de diferentes idades possam conviver, se respeitar e trocar experiências.
Atividades simples como caminhadas em grupo, aulas coletivas, encontros culturais e comemorações festivas (como festas juninas ou aniversários comunitários) são ótimas oportunidades para estimular o convívio entre gerações.
Também vale propor conversas e eventos que envolvam a família, amigos ou vizinhos — como rodas de conversa, oficinas, ou até palestras com especialistas que ajudem a refletir sobre o envelhecimento com empatia.
Essa é uma das muitas formas de criar conexões entre pessoas, sejam elas da geração Z (nascidos a partir dos anos 2000), Y (entre 1985 e 1999) ou os baby boomers (de 1945 a 1964).
Envelhecer faz parte da vida — e esse período tem tudo para ser rico em bem-estar, saúde e sentido. Cada vez mais, é hora de construir pontes entre gerações, não muros.
Está nessa fase ou conhece alguém que está? Que esse caminho seja o mais saudável, produtivo e feliz possível.
As opiniões expressas nos artigos assinados não refletem, necessariamente, a opinião da Folha de Itupeva.