Casa do Artesão de Itupeva: tradição e talentos que valorizam a cidade
Com cerca de 40 associados, o espaço reúne técnicas diversas, como cerâmica, crochê, madeira e fibras naturais, atraindo turistas em busca de peças únicas.
Em mais uma homenagem aos “Talentos de Itupeva”, a Folha de Itupeva navegou na história das artesãs da cidade, desde o seu início com exposições organizadas na rua, e até aos dias atuais, onde visitou a Casa do Artesão e conversou com a vice-presidente e artesã, Lúcia Maria da Silva. A trajetória do artesanato em Itupeva é um reflexo da rica tapeçaria cultural brasileira. Para compreender a profundidade do talento local, é preciso mergulhar nas origens dessa tradição milenar no Brasil.
O artesanato brasileiro é uma expressão cultural vibrante e diversificada, resultado de uma rica mistura de influências indígenas, africanas e europeias. Muito antes da chegada dos portugueses, os indígenas já eram considerados os primeiros artesãos do país, destacando-se na confecção de cerâmicas, cestos, arcos e flechas, além de ornamentos de penas e plumas.
Com a chegada dos africanos escravizados, novas habilidades foram incorporadas, como a cerâmica. Os imigrantes portugueses, por sua vez, influenciaram a estética e a técnica, dando origem ao estilo Barroco, famoso por seus entalhes em madeira e esculturas em pedra-sabão.
Atualmente, o artesanato vai muito além de sua importância cultural e é um pilar significativo na economia brasileira, contribuindo para a geração de renda e o sustento de muitas famílias. Com a popularização de feiras e o interesse de turistas por produtos autênticos, essa atividade milenar se mantém viva e em constante evolução. E a evolução do artesanato em Itupeva não é diferente.
A trajetória do artesanato em Itupeva
A paixão pelo artesanato em Itupeva floresceu das mãos de talentos isolados, que vendiam suas obras conforme conseguiam. Para registrar a trajetória do artesanato em Itupeva, a Folha de Itupeva conversou com a primeira coordenadora das Artesãs, Cleusa Cariri, que nos contou que foi no ano de 2003 que a Prefeitura deu o primeiro passo para valorizar os artesãos do município. Na época, ela era bibliotecária e, a pedido da diretora de turismo, assumiu a responsabilidade de organizar o projeto.
Por obra do destino, Cariri já tinha em seu DNA a paixão por artesanatos, pois desde a sua juventude, em São Paulo, já praticava esta habilidade. Até hoje, Cleusa faz seus artesanatos, mas com foco em doação e presentes.
Cariri relata que antes dessa iniciativa da Prefeitura, em 2003, o talento dos artesãos já desabrochava em suas mãos, e a arte ia aparecendo de forma isolada e não planejada pela cidade.
A iniciativa do projeto, que não contava com um espaço fixo, transformou os sábados em uma feira de artesanato ao lado da igreja São Sebastião. Era uma estrutura bem organizada, com a rua fechada, cerca de 60 barracas de artesãos e artistas plásticos exibiam seus trabalhos, juntamente com barracas de alimentação. O sucesso foi imediato, virou um ponto de encontro aos sábados.
Em 2004, o grupo foi transferido, sob outra coordenação, para o antigo "Casarão", onde recebeu a denominação de Casa do Artesão. Em seguida, o grupo mudou para um amplo e visível espaço no Center Fênix. Neste período, Cleusa Cariri assume novamente o projeto, e dá foco ao aprendizado e ao estímulo à criatividade. As artesãs, em união, decoravam o espaço em datas comemorativas, atraindo mais clientes e fortalecendo o grupo. As próprias artesãs treinavam pessoas interessadas em arte. Mais tarde, a parceria com o SENAR e o SENAI possibilitou a oferta de cursos profissionalizantes em diversas técnicas.
Após uma breve passagem pela antiga Biblioteca, o grupo finalmente se mudou em 2019 para um local doado por um empresário, situado na Vila Turística, onde permanece até hoje, e se tornando nesta ocasião, uma associação.
Cleusa lembra da sua felicidade quando soube do novo local:
"Sempre fiquei na torcida por um local mais amplo e com maior visibilidade para os artistas de Itupeva. Eles merecem e muito. Assim que soube onde seria a nova casa, fui ver e fiquei feliz, e ainda acompanho e fico na torcida de um grande e maior sucesso."
A voz da Secretaria de Turismo
Já o atual secretário de Turismo, Pedro Geraldo de Campos Neto, se expressou à Folha de Itupeva declarando que:
"O artesanato de Itupeva representa um pedacinho da cidade transformado em arte. Não há como falar em artesanato sem falar em turismo, cultura e desenvolvimento econômico. A Casa do Artesão, situada na Vila Turística de Itupeva, simboliza esse movimento, reunindo a criatividade e o talento da Associação das Artesãs de Itupeva, que mantêm vivas nossas tradições e fortalecem a identidade local. Cada peça feita por essas mãos carrega histórias e afetos. E cada visitante que a leva consigo, não leva apenas um produto, mas um pedacinho de Itupeva, eternizado na arte."
Folha de Itupeva visita a Casa do Artesão
A Casa do Artesão, legalizada como associação desde 2019, é atualmente presidida por Maria Isabel da Costa Santos, com Lúcia Maria da Silva no papel de vice-presidente.
A associação conta com cerca de 40 associados. O novo espaço possibilitou o encontro de turistas em busca de lembranças da cidade criadas por mãos talentosas. A casa é carinhosamente setorizada por técnica, permitindo aos visitantes explorar uma vasta gama de obras, incluindo um setor dedicado especialmente ao público infantil.
Entre as técnicas cuidadosamente trabalhadas, destacam-se: Palhas, Esquelitização, Argila, Cerâmica, Madeira, Fibra de bananeiras, Casca do coco, Biscuit, Sementes, Crochê, Tricô e Patchwork (retalho de tecidos).
A Folha de Itupeva visitou a Casa do Artesão e conversou com a vice-presidente Lúcia Maria da Silva e com a artesã Silvia Andreoni, que compartilharam suas experiências.
Paixão e jornada de superação
Para Lúcia, a motivação para explorar novas técnicas é a busca por novidades.
"Quem gosta de fazer artesanato não consegue ficar só com uma técnica. Sempre vai querendo mais", comenta.
Ela mesma conta a sua jornada pessoal: "Eu comecei a fazer artesanato em 2018 para dar de presente, porque não estava achando um presente adequado para dar para uma pessoa. Aí, desde lá me apaixonei e estou me especializando em algumas áreas, principalmente no artesanato com cimento e na cestaria. Então eu pretendo ir nessa área cada vez mais e me especializar cada vez mais. É só alegria daqui para a frente e cada vez melhor."
Lúcia explica que a concorrência com produtos industrializados não é um grande desafio, pois o turista que visita a Casa do Artesão busca por peças autênticas. "Eles chegam aqui e falam: ‘nossa... é diferenciado o artesanato de vocês’.
A contadora aposentada, Silvia Andreoni, artesã de cerâmica, reforça o sentimento.
"Sempre trabalhei com artesanato em minhas horas de folga. Quando me aposentei, comecei a estudar cerâmica desde 2000. Me apaixonei pela área. É uma coisa que dá muito prazer, é um relaxamento, é um desenvolvimento até cognitivo da pessoa", diz Silvia.
A união que gera frutos
A Casa do Artesão é a prova de que a união faz a força. "Somos uma família. A gente dá dicas, a gente ouve e somos bastante prestativas entre si", diz Lúcia. A vice-presidente explica que, apesar do grupo de quase 40 artesãs, todas se ajudam nas vendas, mas a renda é individual, e cada uma recebe de acordo com a venda de suas obras.
"Não há a necessidade de pagar taxa sobre venda, como os nossos parceiros artesãos que não ficam na Casa, apenas expõem suas obras para serem vendidas por nós", esclarece.
A pandemia, um período desafiador, não paralisou a associação. Com a parceria do Apiário Dona Emília, quatro artesãs conseguiram continuar expondo os trabalhos da Casa, impedindo que o projeto sucumbisse.
A relação com o turismo local, segundo Lúcia, está melhorando a cada dia. Para atrair ainda mais visitantes, ela aponta a necessidade de mais divulgação e visibilidade.
O legado da Casa do Artesão é a prova de que a arte, a união e a paixão podem transformar vidas e comunidades. Para Lúcia, o convite está sempre aberto a novos talentos:
"Artesanato bom nós temos, vontade nós temos, organização nós temos. Para quem não nos conhece, venha nos conhecer e colaborar com a gente. Estamos precisando de associados e de gente que venha fazer as vendas conosco, com artesanato novo, diferenciado e de qualidade."
E assim, a Casa do Artesão se estabelece como um símbolo de que a união, o talento e a paixão podem transformar vidas. De um movimento isolado, que começou com artesãos vendendo suas obras de forma solitária, a arte em Itupeva floresceu, se organizou e se tornou uma força que valoriza a cultura e a economia local. Esta é apenas uma das muitas histórias inspiradoras que a cidade tem a oferecer.
Continue acompanhando a série "Talentos de Itupeva" e se prepare para mais uma jornada incrível de descobertas e criatividade na próxima semana!