Casa de Carnes Mário Mantuanelli transforma paixão familiar em referência
Há mais de 55 anos, a família Mantuanelli mantém viva a tradição do açougue, unindo sabor, qualidade e inovação, e construindo memórias afetivas para gerações de itupevenses.
Continuando a série sobre empreendedorismo local, a Folha de Itupeva apresenta a trajetória da Casa de Carnes Mário Mantuanelli, mais conhecida como Açougue do Mário. Para contar essa história, conversamos com os filhos do patriarca, José Mário e Carla Mantuanelli.
A história de uma cidade é escrita não apenas por seus monumentos, mas também por seus comércios tradicionais. Esses negócios, que nascem de um sonho e crescem com a comunidade, tornam-se pilares da economia e da identidade local, assim como o Açougue do Mário, que há mais de 55 anos se mistura com as memórias e os sabores dos itupevenses.
O início em uma Itupeva rural
O patriarca, Mário Mantuanelli (in memoriam), iniciou sua jornada empreendedora na década de 1950 com um método de trabalho que refletia o espírito rural da época. Ele comprava gado de fazendeiros da região, abatendo os animais e vendendo a carne. A logística envolvia cavalos e carroças para realizar as entregas.
Nessa Itupeva, que era distrito de Jundiaí e tinha sua economia baseada na agricultura, era comum que os compradores pagassem anualmente na colheita da uva e café.
A trajetória do Açougue do Mário se confunde com os primeiros passos da cidade. Itupeva se emancipou em 1965 e, naquele ano, comemorou a posse de seu primeiro prefeito, que realizou as primeiras benfeitorias, como a aquisição de uma motoniveladora para conservar as estradas do município e a implantação dos serviços de água e esgoto.
Enquanto a cidade começava a se organizar, Mário percebeu a necessidade de formalizar seu negócio, que já existia informalmente há cerca de 10 anos. Mas, foi após fechar uma vendinha que ele tinha no bairro da Mina, que ele enxergou a oportunidade de oferecer um serviço que poucos tinham: a venda de carne, em uma época em que nem mesmo os fazendeiros possuíam geladeiras para o abate e o armazenamento. Com o apoio da esposa, Celina, o empreendimento foi inaugurado oficialmente em 1969.
Este ano entrou para a história mundial com a chegada do homem à Lua e o surgimento da ARPANET, a precursora da internet. Enquanto o mundo viveu esses momentos revolucionários, a jovem Itupeva crescia em seu próprio ritmo.
As ruas ainda eram de terra, e o abastecimento de água era de responsabilidade dos moradores, que tinham poços e cisternas. José Mário, inclusive, guarda na memória as brincadeiras de infância na areia que preparava a Avenida Brasil para o asfalto de paralelepípedos.
O sabor da tradição e o padrão de excelência
O Açougue do Mário se tornou uma referência, mantendo a qualidade e o sabor de seus produtos como um grande diferencial. Hoje, a gestão do negócio está nas mãos dos filhos, José Mário, que cuida da compra e da produção, e Carla, responsável pela parte administrativa, financeira e de RH. Eles garantem que a essência original seja mantida, porque aprenderam na prática com os pais desde a adolescência.
A linguiça artesanal, que se tornou o carro-chefe da casa, é um exemplo disso. A receita de seus temperos, que começou com o pai, é mantida até hoje. A única alteração foi a de retirar a pimenta do reino, após uma reportagem que dizia que fazia mal.

O sucesso é tanto que a linguiça do Açougue do Mário já viajou para outros países, levada por clientes que foram visitar parentes no Japão, Paraguai e na Alemanha. A tradição se une à modernidade, e atualmente o açougue oferece mais de 12 tipos de linguiça, além de carnes temperadas (mantendo o tempero do pai) e as assadas aos finais de semana.
A qualidade é assegurada por um rigoroso controle de estoque, com compras diárias baseadas na demanda, e a supervisão da responsável técnica Clemance, que visita o local a cada 15 dias para checar a validade, qualidade, manuseio dos produtos, além dos procedimentos operacionais.
Além de vender para os clientes locais e turistas, a casa também fornece seus produtos para empreendimentos locais, como restaurantes, supermercados e o Clube Jundiaiense que compra linguiça para a tradicional feijoada anual.
Um legado de resiliência, inovação e companheirismo
Ao longo de mais de cinco décadas, a empresa cresceu junto com Itupeva e consolidou uma equipe de confiança. Além dos pioneiros como Piracaia, Antônio, Calu e Nico, vieram outros como Marú, Benedito, Guinho e Lilo que ajudaram a construir a história da casa, sendo que alguns, inclusive, já se aposentaram pela empresa.

Hoje, a Casa de Carnes conta com 10 funcionários que contribuem para manter o sucesso e a tradição do local.
A resiliência foi testada ao longo das décadas, começando com a maior dificuldade dos primeiros anos: o transporte e o armazenamento das carnes, o que obrigava o abate e a venda no mesmo dia.
Durante a pandemia, a resiliência foi testada novamente, despertando a capacidade de adaptação da equipe. Por ser um comércio de primeira necessidade, o negócio se manteve aberto, operando com a regra de distanciamento. Foi um momento de se reinventar e implantar o serviço de delivery, que hoje se tornou um diferencial.
Em um período em que muitos comércios fechavam, a Casa de Carnes não só manteve sua equipe, como viu um aumento na demanda, pois as pessoas estavam cozinhando mais em casa.
Para o futuro, a tradição continua sendo a base, mas a inovação é o motor. Os irmãos planejam lançar kits semanais com opções de carnes para facilitar a rotina dos clientes e estuda a possibilidade de incluir a entrega por aplicativos como o iFood.
A fidelidade dos clientes é a maior prova de que a dedicação à qualidade compensa: clientes de terceira geração continuam frequentando o açougue, motivados por um padrão de excelência que perdura há mais de meio século.
Recado para os amantes de churrasco
Para aqueles que buscam a carne perfeita, os irmãos Mantuanelli dão a dica:
"Comprar carne checando a procedência e visando a qualidade. Optar por cortes que têm um pouco de gordura, ou seja, marmoreio, como picanha, maminha e fraldinha. E não esquecer de nossa tradicional variedade de linguiça artesanal".
A história da Casa de Carnes Mário Mantuanelli é um testemunho da paixão pelo trabalho e da dedicação de uma família que ajudou a construir a história de uma cidade. O conselho dos irmãos para os novos empreendedores resume sua trajetória e legado:
"Começar analisando o mercado local para checar se o segmento desejado comporta na cidade. Planejar e prezar pela qualidade e em um excelente atendimento. Procurar empreender no segmento que gosta e que se sente bem. Se preparar com treinamento de gestão. Persistir no sonho e ser resilientes aos desafios."
Na próxima semana, não deixe de acompanhar mais uma história desta série de reportagens, mergulhando no universo do empreendedorismo local e conhecendo de perto as trajetórias que ajudam a transformar Itupeva.