Alessandra Cedran conta os bastidores dos food trucks em Itupeva
Conheça a experiência de uma empreendedora local que atua na intermediação e operação de food trucks, revelando desafios e oportunidades desse mercado na cidade.

O universo dos food trucks (do inglês, “caminhão de comida”) vai além de uma simples lanchonete móvel. Ele representa uma revolução no cenário gastronômico, combinando flexibilidade, inovação e sabores autênticos e especializados.
A história dos food trucks é mais antiga do que muitos imaginam. Suas raízes remontam ao século XIX, nos Estados Unidos, com as chuck wagons, carroças adaptadas para servir refeições a vaqueiros e trabalhadores em áreas remotas. Essas cozinhas ambulantes ofereciam praticidade e alimentação quente onde não havia restaurantes.
Com o passar do tempo e o avanço da tecnologia, surgiram os primeiros caminhões de comida em grandes cidades americanas, atendendo trabalhadores da construção civil e operários.
No entanto, o conceito moderno de food truck, com foco em gastronomia de qualidade, design inovador e cardápio especializado, começou a se consolidar no início dos anos 2000 e ganhou ainda mais força após a crise econômica de 2008, nos EUA.
Em Itupeva, assim como em cidades vizinhas, a presença de food trucks tem crescido, refletindo uma tendência nacional de levar a gastronomia sobre rodas a diversos públicos. Eles têm ganhado espaço em eventos municipais, empreendimentos privados e pontos estratégicos, complementando a oferta culinária local e criando novas experiências de lazer e consumo.
Para entender melhor essa dinâmica e os bastidores desse mercado na cidade, a Folha de Itupeva conversou com Alessandra Cedran, figura-chave que atua como intermediária entre os proprietários de food trucks e as associações locais. Sua experiência vai além da intermediação: ela também é proprietária de um food truck, especializado em sucos e milk shakes, o que lhe confere uma visão privilegiada e completa desse universo.
Alessandra compartilhou sua jornada, os desafios e as oportunidades, além das perspectivas para o futuro dos restaurantes sobre rodas na região. Confira os principais trechos da conversa.
Folha de Itupeva: Alessandra, para começar, sua trajetória é bastante interessante. Como surgiu essa sua dupla função de intermediar os food trucks e, ao mesmo tempo, ser proprietária de um?
Alessandra Cedran: Minha história com food trucks começou há 7 anos. Resido em Itupeva há 11 anos e tudo iniciou de forma bem orgânica. Eu vendia hortifrúti em uma barraca em frente à minha casa e fui convidada para participar da feira municipal de rua.
Deu certo, mas eu tinha muitas perdas de frutas. Para não desperdiçar, comecei a fazer suco em casa e a vender. Vendi tudo, e foi aí que decidi empreender e comprei um food trucks. Hoje, trabalho com sucos naturais, vitaminas, milk shakes, smoothies e açaí.
Já a função de intermediadora surgiu durante a pandemia. Fui convidada a organizar uma feira dentro da associação onde moro, e passei a convidar outros parceiros de food trucks, o que se consolidou em feiras gastronômicas que hoje atendo também outras associações.
Folha de Itupeva: Qual a importância de um intermediador como você para o bom funcionamento e a expansão desse setor na cidade?
Alessandra Cedran: É fundamental para a organização e para garantir a qualidade dos eventos. Eu só convido food trucks totalmente legalizados. Faço toda a organização do evento, desde a contratação de mesas, cadeiras, tendas e até do músico, garantindo o bom funcionamento com alta qualidade. Minha meta é trazer uma experiência completa e segura.
Folha de Itupeva: Falando em legalização, quais são os principais desafios que os food trucks enfrentam para operar em Itupeva em termos de licenças e permissões? Há algo que poderia ser facilitado?
Alessandra Cedran: Os principais desafios são as exigências da Secretaria do Comércio da cidade e da Vigilância Sanitária. As regras das leis municipais não são iguais para as cidades vizinhas. Se fosse padronizado, facilitaria muito toda a organização, e teríamos mais variedade de produtos.
O básico para conseguir uma vaga em um evento ou associação, através da minha intermediação, é ter alvará de ambulante para poder parar em locais diferentes com permissão, CNPJ de MEI e cursos de manipulação de alimentos.
Folha de Itupeva: Você percebe um número crescente de food trucks querendo operar em Itupeva? E quais tipos de culinária estão mais em alta ou já consolidados?
Alessandra Cedran: Sim, o número vem crescendo bastante. Os que mais buscam espaço são hamburguerias e cervejarias. Pelo meu conhecimento, atualmente existem mais ou menos uns 10 food trucks legalizados na cidade.
Folha de Itupeva: Como é a receptividade das associações e da comunidade de Itupeva em relação à presença dos food trucks? Eles vêem um valor agregado?
Alessandra Cedran: A receptividade é 100% muito bem-vinda, pela comodidade, segurança física e segurança alimentar. As pessoas não precisam gastar com delivery e o valor dos produtos está dentro do que o mercado oferece.
Os food trucks oferecem momentos gastronômicos muito enriquecedores, pois aproximam os vizinhos, trazendo confraternização ao local. Em eventos da cidade, participam na praça de alimentação também com uma culinária mais saudável, higiênica, prática e confiável.
Folha de Itupeva: Há alguma iniciativa ou projeto específico para organizar feiras ou eventos regulares de food trucks em Itupeva?
Alessandra Cedran: Infelizmente, ainda não temos o apoio necessário para legalizar eventos em associações. Os eventos da cidade são organizados pela prefeitura, e eles fazem a convocação através de anúncio no site da prefeitura e no diário oficial.
Folha de Itupeva: Além das questões burocráticas, quais são os maiores desafios operacionais que os food trucks enfrentam em Itupeva?
Alessandra Cedran: O maior desafio operacional é atender dentro das exigências da secretaria sanitária, que são bem rigorosas.
Folha de Itupeva: E quais oportunidades você identifica para o crescimento desse mercado em Itupeva nos próximos anos? Há nichos ou locais inexplorados?
Alessandra Cedran: Acredito que nas feiras e eventos nos parques da cidade poderia ter mais espaço para food trucks. Há muito potencial a ser explorado nesses locais.
Folha de Itupeva: Sua experiência como proprietária de food trucks é inspiradora. Como você vê o impacto do seu próprio food trucks em sua vida e negócios?
Alessandra Cedran: O food trucks trouxe muitos desafios, mas hoje é a minha renda principal. É uma grande satisfação ver o resultado que ele vem trazendo. Inclusive, meu food trucks já gerou dois pontos físicos: um dentro da galeria Villa Veneto aqui em Itupeva e outro em Jundiaí, dentro de um centro logístico. Isso mostra o potencial de crescimento e a solidez que o negócio pode alcançar.
Folha de Itupeva: Como sua experiência como proprietária de food trucks influencia e ajuda no seu trabalho de intermediação? Você consegue entender melhor as dores e necessidades dos outros empreendedores?
Alessandra Cedran: Sim, com certeza. Por conta das pessoas conhecerem os meus produtos, fica mais fácil eu ser convidada para eventos, e desta forma eu consigo convidar outros parceiros.
Eu organizo priorizando a rotatividade entre os Food Trucks do mesmo segmento, inclusive incluindo o meu, para que todos tenham oportunidade. Também dou oportunidade para as pessoas que fazem artesanato, convidando-as para participarem, criando um ecossistema.
Folha de Itupeva: Para finalizar, como você vê o futuro dos food trucks em Itupeva? Eles tendem a se consolidar como uma opção constante ou mais ligada a eventos específicos? E qual conselho daria para alguém que pensa em iniciar um negócio de food trucks na cidade?
Alessandra Cedran: A tendência é de se consolidar, porque a procura tem crescido bastante. Para quem pensa em iniciar, meu conselho é: faça o que gosta. Adquira um food trucks com produtos que você goste, não apenas porque vai trazer uma boa renda, mas acima de tudo para que lhe traga satisfação e, consequentemente, sucesso.